Friday, November 24, 2006

Morro de São Paulo – 6º dia

Sábado, sete horas da manhã. Com decepção, abri a janela do quarto e observei a chuva caindo do lado de fora. Mesmo assim, não desanimei e fui me despedir das águas da Segunda Praia.

Apenas alguns cachorros da vila passeavam na areia, debaixo da garoa. Segundo o agente de turismo Lucas, a Prefeitura do Município de Cairú enfrentou certa vez o problema da superpopulação canina utilizando veneno. Enquanto eu caminhava até o mar, um vira-lata que lembrava levemente um pastor alemão cismou comigo e até afastou outro cachorro carente que também queria se aproximar. Quando voltei para a pousada, tive que dizer “tchau”, para ele não entrar comigo.

O mesmo rapaz que carregou nossas malas até a pousada no dia da chegada levou nossa bagagem até o Terminal Marítimo na hora da partida. Foi uma surpresa, mesmo com a chuva, encontrar o Terminal tão cheio às 11h de um sábado. Se em baixa temporada Morro de São Paulo tem tanto movimento, imagino na alta temporada. E ainda tivemos outra surpresinha: uma taxa de R$ 0,57 pelo uso do Terminal. Um absurdo, mesmo sendo um valor simbólico, já que a principal via de acesso à ilha é o mar.

As novidades não acabaram aí. Para nós, leigos no assunto, o mar nem parecia tão agitado, porém a Biotur, empresa responsável pelas catamarãs que pagamos, informou que parte do trajeto para Salvador seria por terra. Uma embarcação nos levaria até Valença; de lá, pegaríamos um ônibus da própria Biotur até Itaparica; do terminal de Itaparica, seguiríamos de catamarã até a capital baiana.

O barco simples que nos levou até Valença saiu com quase meia hora de atraso, porém não enfrentou nenhuma dificuldade. Nos olhares dos passageiros, a tristeza de deixar para trás os dias lindos passados em Morro de São Paulo. Rapidamente, chegamos ao local de onde sairiam um ônibus e um micro-ônibus para Itaparica.

Eu e meu marido preferimos a fila rápida próxima ao bagageiro do veículo maior. Além dos dois motoristas, havia apenas uma guia turística da Biotur e ela preferiu acompanhar os passageiros do micro-ônibus.

A estrada era de mão dupla e os poucos carros que passavam por nós abusavam da velocidade. Por ali não chovia e logo nosso motorista acelerou também, a ponto de ultrapassar o micro-ônibus que havia saído alguns minutos antes de nós. Mas sua pressa foi brecada pelo destino. Um barulho estranho do lado direito do ônibus obrigou-o a parar no acostamento. Uma fumaça preta soltou-se com força da parte de trás e assustou os passageiros.

Quando viajei de ônibus a Irecê, também no estado da Bahia, em 2003, vi alguns ônibus queimados na estrada e no estacionamento da empresa responsável. O que encontramos na estrada estava no estado de Goiás. O fogo tomara o veículo de forma tão rápida que não havia dado tempo dos passageiros retirarem suas bagagens. Felizmente, no entanto, ninguém havia se ferido. Segundo um motorista com o qual conversei na época, isso é causado pela falta de manutenção nos ônibus. E o fogo sempre se inicia na roda de trás, do lado direito do veículo.

No caso do nosso ônibus de Valença a Itaparica, o sinal de fumaça foi apenas um susto. Não houve incêndio. E o motorista com certeza não conhecia essas histórias de ônibus queimados, pois demorou a abrir a porta do corredor e liberar os passageiros.

Assim que descemos, retiramos nossas malas do bagageiro e o micro-ônibus nos alcançou. A recusa em seguir viagem naquele ônibus maior foi unânime, ainda mais com um motorista sem noção alguma de mecânica. A guia da Biotur ligou imediatamente para a empresa, então, e solicitou outro veículo.

A preocupação de boa parte dos passageiros era com o atraso para chegar ao aeroporto de Salvador. E aqui dou a primeira dica: nunca marque a catamarã e o vôo em horas muito próximas. Não há como adivinhar os imprevistos. Eu e meu marido estávamos tranqüilos, pois nosso vôo para São Paulo estava marcado para 00h10 e ainda eram 14h. Contudo, boa parte dos turistas que nos acompanhavam perderam vôos naquele dia.

A guia da Biotur, muito atenciosa, mas um tanto afoita, enrolava horrivelmente o portunhol para os estrangeiros. Graças a alguns brasileiros fluentes em inglês, duas holandesas e alguns outros europeus conseguiram avisar que seus vôos sairiam logo e a guia tentou entrar em contato com as companhias aéreas. Ela também pensou em colocar as pessoas com vôos imediatos no micro-ônibus e deixar os outros esperando o novo carro. Por telefone, seu supervisor a fez desistir dessa idéia.

Mais calmos, ríamos de nossa situação. Éramos um grupo grande de pessoas em pé ou sentadas, apoiadas em nossas bagagens, naquele estreito caminho de asfalto. Até cantamos o “Parabéns” para a guia, que nos revelou que nem deveria estar trabalhando no dia do seu aniversário, pois era sua oportunidade de passar mais tempo com a filha. Ela havia tentado trocar com outros colegas a escala do fim de semana, mas não conseguira.

O outro ônibus chegou mais novo e confortável. Aquele com certeza não apresentaria os mesmos problemas de manutenção e seguimos tranqüilos para Itaparica. A guia passou, então, o caminho todo desabafando com o novo motorista e era a única voz que se ouvia dentro do carro, pois a maioria dos passageiros resolvera tirar uma soneca.

Ao chegarmos ao terminal de Itaparica, a chuva veio nos receber. A estratégia de ficar na parte descoberta da catamarã para não enjoar seria utilizada por poucas pessoas no início da viagem; a maioria sentou-se na parte coberta para se proteger. Por um tempo, a navegação parecia tranqüila, apesar da paisagem assustadora do lado de fora – quem não acha assustador chuva fina e neblina em alto mar? Mas quando a agitação das águas fez a pesada catamarã pular, aí nos assustamos de verdade.

O intervalo entre as ondas foi diminuindo, fazendo a catamarã pular mais vez, e os passageiros começaram a enjoar. Alguns esqueciam o chuvisco e iam direto para o lado de fora, outros permaneciam no lugar, respirando fundo, e mal conseguiam levantar. Felizmente, não tenho estômago fraco e só me assustei com o balanço mais forte a medida que a hora passava. No entanto, vi pessoas ali com expressões bem preocupantes. E tive muita pena das crianças.

A guia equilibrava-se por toda catamarã para atender as dúvidas dos passageiros. Ela garantiu a todos que essas eram condições viáveis para a catamarã seguir de Itaparica a Salvador. Um passageiro ainda perguntou sobre os coletes salva-vidas, que não ficavam visíveis na embarcação. Quando ela mostrou os armários nos quais eles estavam guardados, alguns desinformados sobre o início da conversa se assustaram. Mas ela logo esclareceu que apenas estava tirando uma dúvida.

Na parte descoberta da catamarã, sentia-se com menos intensidade o impacto sobre as ondas. Conversei com um dos funcionários responsáveis pela condução da embarcação e, equilibrando-se apenas nos pés, ele me contou que o mar até estava calmo naquele momento. Na noite anterior, quando começou a mudar o tempo, os passageiros chegaram a sujar os dois corredores da parte interna do veículo com o enjôo. Senti mais segurança sobre a nossa situação com esse comentário. Mas realmente não é uma aventura que indico. Se for a Morro de São Paulo e o tempo mudar assim na hora de voltar para casa, procure não sair de lá.

Com a vontade de chegar mais rápido, Salvador nunca pareceu tão longe. Quando finalmente chegamos, mesmo debaixo de garoa, alguns rapazes de roupa social ofereciam serviços de táxi já na ponte de madeira, a caminho do terminal. Eram mais ou menos 16h, 16h30, mas meu marido, cansado das aventuras, quis ir direto para o aeroporto. Aceitamos a oferta de um rapaz e fechamos por R$ 50,00 a ida de táxi ao aeroporto. No meio do caminho até o carro, o rapaz nos indicou a um senhor e este carregou uma das malas até o lado de fora do terminal marítimo. Quando vimos seu Corsa preto com o vidro da porta do passageiro quebrado, a janela coberta com um pedaço de saco plástico preto, retiramos a mala de suas mãos imediatamente. Logo encontramos alguns táxis de uma frota de verdade e seguimos com o taxímetro rodando até o nosso destino.

Segundo nosso motorista, alguns malandros pegam seus carros particulares e estacionam no terminal para fazer um preço fechado até o aeroporto. Ele disse ainda: “Você vai com um desses, paga R$ 50,00, sendo que aqui vai dar uns R$ 52,00, no máximo, e não tem garantia de nada, nem se o cara vai te levar pro aeroporto mesmo, se ele não vai roubar sua bagagem; aí não tem seguro, sendo que, com o táxi da frota, a empresa se responsabiliza, e se o carro quebra eles mandam outro.” Ele tinha razão sobre a segurança, mas também descobrimos que pagamos caro o táxi no dia da chegada, porque aquele motorista do aeroporto também fora malandro ao jogar o preço fechado até o terminal por R$ 75,00. O segredo é não parecer marinheiro de primeira viagem.

Nosso taxista era bem simpático e nos revelou que já havia morado em São Paulo. Ele nasceu em Valença e hoje seus pais moravam em Gamboa, na Ilha de Tinharé. Ele não quis a calmaria do povoado e seguiu para as cidades grandes. Mas preferiu ficar em Salvador depois que morou em São Paulo.

Apesar das notícias de alagamento em Salvador durante aquele sábado, não pegamos muito trânsito até o aeroporto. O taxímetro marcou exatamente R$ 52,00 a corrida, como o motorista havia previsto. Teríamos mais de 6h de aeroporto pela frente.

Há boas opções de alimentação dentro do Aeroporto Luís Eduardo Magalhães. Porém, nós estávamos com saudades do fast food estilo Mc Donald’s e fomos parar no Bob’s. Lá pude tomar um dos melhores sucos de cajá da viagem. Satisfeitos, seguimos passeando pelo Aeroshopping.

As lojas do Aeroporto Internacional são excessivamente atraentes para quem gosta de comprar lembrancinhas de viagem. Pimenta e cocada baiana, chocolates de Ilhéus, muitas e muitas porcelanas (especialmente bonecas baianas e personagens religiosos), objetos feitos com as fitinhas do Senhor do Bonfim, entre outras coisas. Não sentimos as horas passarem.

O embarque estava marcado para as 23h30, mas nas telas próximas aos portões fomos informados da previsão de atraso do nosso vôo. O avião para Guarulhos que deveria decolar as 00h10 talvez saísse entre 00h50 e 01h. Como no Aeroporto de Cumbica no dia do embarque para Salvador, não encontrávamos funcionários da TAM no portão de espera. Já passava da uma e meia da madrugada quando, sentados nas poltronas, ouvimos o piloto informar que a decolagem estava autorizada.

Para evitar áreas de maior turbulência, nosso piloto seguiu uma rota um pouco mais longa para Guarulhos. Cansados, sonolentos e com frio, chegamos em casa com o dia amanhecendo. Um amanhecer bem diferente dos dias no paraíso...

Tuesday, November 14, 2006

Morro de São Paulo (BA) – 5º dia

Assim como a ida ao Forte e ao Farol, a caminhada pelas praias de Morro é uma ótima opção de passeio para quem quer economizar - afinal, não é necessário nenhum guia, nem transporte.

Saímos cedo, para aproveitar a maré baixa. Pudemos andar tranqüilamente pela Terceira Praia e, quando chegamos ao começo da Quarta Praia, observamos um considerável número de pessoas caminhando em direção ao mar. Logo descobrimos as belas e quentes piscinas naturais da Quarta Praia.

Parados e com a água batendo na altura dos joelhos, fomos rodeados pelos peixes em poucos segundos. Não tem preço um momento de paz e contato com a natureza como esse! Deixamos a hora passar, sentados na areia, dentro da água, vendo peixes pequenos e outros menores ainda nos rodearem. A maré subiu um pouco, lentamente, e continuaríamos mais tempo ali, se não tivesse aumentado o número de turistas com maior interesse no banho das piscinas do que na fauna marinha.

Saímos do meio da atração turística, porém continuamos caminhando pela água até um grande banco de areia mais à frente. Estávamos a uma distância para dentro do mar que seria considerada perigosa se a maré estivesse alta. No entanto, naquele momento, o banho era em águas rasas, em volta do banco de areia. Como ainda havia muito para caminhar até a Quinta Praia, demoramos menos por ali.

A extensa faixa de areia da Quarta Praia tem poucas pousadas, mas elas são grandes, bem maiores do que as da Segunda e Terceira praias. E ainda contam com muros de proteção em frente às fachadas, feitos de tocos grossos de árvores, para impedir que a maré alta invada os terrenos. Há também, no caminho, uma entrada que leva ao pequeno vilarejo Zimbo, de onde é possível seguir por trilhas até o Morro da Mangaba e ao povoado de Gamboa.

Havia pouco ou quase nenhum movimento de pessoas ao longo de todo o trajeto até a Quinta Praia. Contudo, vimos bastante lixo plástico espalhado, ofuscando a exuberante beleza da Quarta Praia. Falta de consciência dos moradores e dos visitantes da ilha.

Depois de um breve banho de mar para nos refrescarmos do calor do sol e da caminhada, seguimos pela faixa de areia aberta por dentro de um manguezal. Rodeados pela mata, sentimos o ar ainda mais abafado e, quando chegamos ao riozinho que deveríamos atravessar para chegar a Praia do Encanto (ou Quinta Praia), observamos que em breve teríamos dificuldades para retornar, com a alta da maré. Se tivéssemos outro dia em Morro, teríamos seguido para a Praia do Encanto mais cedo, sem fazer paradas.

Quando chegamos a Terceira Praia, as águas do mar já alcançavam o muro de pedras que protege a calçada elevada, na qual ficam as pousadas e restaurantes dessa praia. Tivemos alguma dificuldade para atravessar em algumas áreas, mas conseguimos chegar tranqüilamente a Segunda Praia.

O jantar à luz de velas na pizzaria do Funny Beach, na Segunda Praia, já tinha gosto de saudade, naquela noite de sexta-feira. A boa e leve pizza de mussarela foi saboreada lentamente, enquanto observávamos pela última vez, nessa viagem, o pequeno Luau da praia mais agitada de Morro, com suas inúmeras barracas de frutas e batidas. Infelizmente, a ventania mais forte indicava mudança de tempo para a nossa volta a Salvador no sábado à tarde.

Friday, November 10, 2006

Morro de São Paulo (BA) – 4º dia

Na quinta-feira, passamos a manhã curtindo as águas calmas e a areia quente da Segunda Praia e o início da tarde aproveitando a piscina da Pousada Brisa do Caitá. Por volta das três horas, caminhamos em direção ao Terminal Marítimo, na entrada da Vila, e de lá seguimos a trilha que começa ao lado do Portoló, em direção a Fortaleza de Tapirandu (ou Forte da Ponta).

Construído em 1630, o Forte tinha duas funções principais: proteger o canal de Tinharé e o escoamento da produção de importantes centros para a capital, e evitar que embarcações inimigas pudessem penetrar a chamada barra falsa da Baía de Todos os Santos. A maior parte da muralha, constituída de pedra e cal, ainda resiste ao tempo, assim como a construção que abrigava o corpo da guarda, os alojamentos dos oficiais, a prisão e a casa de pólvora (única parte coberta e escura, que deve ser aproveitada atualmente por alguns casais, já que há vários pacotinhos de camisinhas espalhados pelo chão).

A pequena Praia do Forte fica próxima as muralhas. Na hora em que descemos até ela, a maré ainda estava alta, começando a baixar, por isso havia uma área mínima de areia. De qualquer forma, valeu a pena a visita ao Forte e a Praia do Forte, pois levou nossa imaginação direto ao século XVII.

No caminho de volta ao Portoló, observamos melhor a danceteria local, Pulsar Disco, que fica no meio da trilha do Forte. Rodeada pela mata, a casa é alta, grande e, em sua maior parte, aberta. Deve ter alguns moradores também, porque havia varais cheios de roupas espalhados, e visíveis de onde estávamos. Não tivemos oportunidade de conhece-la à noite.

Do Portoló subimos a ladeira até a Igreja Nossa Senhora da Luz e pegamos o caminho que começa em frente à Igreja até o Farol Morro de São Paulo. Passamos por algumas pousadas bastante charmosas - havia uma que até prometia um bom pão de queijo mineiro em seu cardápio. Depois seguimos uma trilha pela mata, subindo através de degraus improvisados com tocos de madeira.

Não é permitida a entrada no Farol, que foi inaugurado em 1855 e é conservado pela Marinha. Há um banquinho próximo à entrada, estratégico para um repouso. Dali também é possível continuar por outra trilha no meio da mata até a Tirolesa, que desce até a Primeira Praia e não teve movimento durante a semana toda que estivemos em Morro.

Como havia pouco o que visitar por ali, voltamos logo para a Vila. À noite, não resistimos e fomos jantar novamente os crepes do Oh Lá Lá. Continuavam deliciosos! Na sexta-feira, a caminhada seria mais longa, pela Terceira, Quarta e Quinta Praia.

(Foto do Forte no fotolog www.fotolog.com/alexandrab. A partir de segunda-feira, 13 de novembro, colocarei uma foto nova por dia, incluindo, assim, todos os pontos turísticos citados aqui, nos textos sobre Morro de São Paulo)

Tuesday, November 07, 2006

Morro de São Paulo (BA) - 3º dia

Na quarta-feira, amanheceu um lindo dia de sol! Estávamos prontos para o passeio Volta à Ilha de Tinharé (pagamos R$ 45,00 por pessoa).

Morro de São Paulo está situado no extremo norte da Ilha de Tinharé, que compõe, junto com Boipeba, Cairú e outras 23 ilhas menores, o Arquipélago de Tinharé. Cairú é o único município-arquipélago do Brasil. (Mapa do Arquipélago de Tinharé no fotolog www.fotolog.com/alexandrab)

Esqueci de comentar anteriormente sobre o café da manhã na pousada Brisa do Caitá. Muito bom! Todos os dias havia uma boa variedade de pães (com e sem recheio), bolos e frutas. Os alimentos ficavam em uma espécie de armário com portas de vidro, que eram mantidas fechadas para evitar o contato dos alimentos com moscas e outros insetos. Era bem higiênico. Tivemos a oportunidade de tomar sucos de cajá, graviola e até algumas misturas de diversas frutas. Uma funcionária da pousada observava o tempo todo se faltava alguma coisa e repunha imediatamente. Infelizmente, ela só não conseguia entender o que os hóspedes estrangeiros pediam (um deles não conseguiu esquentar o pão...).

Às nove horas, passamos no Funny Beach para encontrar com o Lucas, que nos acompanhou até a Terceira Praia, para mostrar em qual flexboat faríamos o passeio. Como a maré estava baixa, caminhamos pela água até a Lancha Vip Puro Prazer.

Já em alto mar, avistamos de longe a Quarta Praia e a Praia do Encanto (ou Quinta Praia) de Morro de São Paulo. A primeira parada foi nas piscinas naturais de Garapuá. O aluguel do snorkel estava incluso no preço que pagamos pelo passeio e pudemos admirar por muito tempo os peixes e corais das águas límpidas e rasas das piscinas naturais. Para mim e para o meu marido, sem dúvidas, foi a melhor parte de todo o passeio!

Quando saímos das piscinas de Garapuá, a água já estava na altura do pescoço, devido à maré alta. No caminho, avistamos de longe a plataforma de Petróleo que fica próxima a praia de Moreré, em Boipeba. Ao chegarmos próximos a Ilha de Boipeba, nosso guia Ricardo nos apresentou como opção a caminhada por dentro de Boipeba. Diante da recusa de todos os passageiros da Lancha, não me senti à vontade para dizer que eu gostaria de fazer a caminhada. Se eu ou mais alguém disséssemos sim, Ricardo deveria no levar até a praia de Cueira e quem fizesse a caminhada encontraria os demais passageiros mais tarde na praia da Boca da Barra, também em Boipeba. O guia que conduziria a caminhada deveria ser pago a parte, pois não estava incluso no valor do nosso passeio de lancha. Como Ricardo não precisou deixar ninguém em Cueira, seguimos direto para a praia da Boca da Barra.

Algumas lanchas, além da nossa, estacionaram no Rio do Inferno (que tem esse nome, porque as caravelas portuguesas costumavam encalhar quando passavam por ali). Em poucos minutos, as mesas dos restaurantes espalhadas pela areia ficaram ocupadas. Ficamos em uma mesa do Kiosk Brilho do Sol. Como o Rio do Inferno separa as ilhas de Boipeba e Tinharé, dali da Boca da Barra tínhamos a agradável vista da praia do Pontal, com o coqueiral de Tinharé.

As praias da Boca da Barra são realmente muito belas e conseguimos perceber que Boipeba é bem mais tranqüila, menos movimentada, do que o povoado de Morro de São Paulo. Muitos guias de Morro nos recomendaram passar um dia apenas em Boipeba, porque há muito que ver por lá, mas não tivemos oportunidade nessa viagem.

Durante o almoço, vimos alguns estrangeiros chegando para se hospedar em Boipeba e enfrentando a dificuldade de encontrar alguém que falasse pelo menos um pouco de inglês. Era um australiano falando “I don’t speak your language” e o carregador de malas perguntando “Vai ficar aonde?”. Infelizmente, não acompanhei o desfecho dessa história, porque lá na Boca da Barra, pela primeira vez na viagem, dois garotos encostaram-se a nossa mesa para pedir “um real”. Um dos garotos ainda permaneceu com os braços em cima da mesa, mesmo depois de dizermos que não tínhamos moedas, para nos intimidar. Depois de uns dez minutos ele foi embora.

Além do almoço, só gastamos para comprar um azulejo pintado a mão por uma moça que, pelo sotaque, era imigrante de algum outro país sul-americano. Ajoelhada na areia ao lado de nossa mesa, com apenas quatro cores e pintando com os dedos ela fez ali, na hora mesmo, aparecer uma bela paisagem no azulejo. Não nos arrependemos dos R$ 15,00 pagos pela arte.

Por volta das duas e quarenta da tarde, os passageiros retornaram a lancha para a continuação do passeio da Volta à Ilha de Tinharé. Ao passarmos por Canavieira, na Ilha de Tinharé, Ricardo também apresentou como opcional a parada para a degustação de ostras. Mais uma vez todos os passageiros disseram que não precisava parar e um único passageiro, que estava próximo a mim, comentou em tom baixo de voz para a namorada que ele gostaria de fazer a degustação. Nessa hora, confirmei minha opinião de que nada deveria ser opcional no passeio da Volta à Ilha..., porque quando a maioria não quer, a minoria acaba desistindo de satisfazer suas vontades. Eu, particularmente, não gosto de ostras, mas o lugar me pareceu interessante para fazer um passeio.

Nossa próxima parada foi no município de Cairú. Lá tínhamos a opção de visitar o Convento de São Francisco de Assis. Mal descemos no terminal de Cairú e inúmeros garotos, com idades entre 8 e 11 anos, nos cercaram para se oferecerem como guias a caminho do Convento (que é fácil de chegar). O preço do serviço deles, R$ 2,00, também não estava incluso no valor que pagamos pelo passeio Volta à Ilha..., assim como para entrar no Convento, cobrava-se um valor a parte. Eu e meu marido decidimos caminhar sozinhos, para podermos parar, fotografar, admirar quantas vezes quiséssemos, porém com a insistência e agressividade dos garotos atrás de nós, desistimos de chegar até o Convento. As outras ruas próximas ao terminal estavam tranqüilas como se fosse domingo na cidade.

Ao sairmos de Cairú, seguimos de volta a Morro próximos a grandes e belos canais de manguezais. Ainda pudemos admirar o brilho do sol de fim de tarde nas ondas formadas pelos dois motores da Lancha. Passamos por Galeão (Ilha de Tinharé) e, antes de chegar ao terminal de Morro, só paramos para abastecer a Lancha em um curioso posto flutuante em Manguinhos (continente).

Realmente a Volta a Ilha de Tinharé é um passeio essencial para quem vai a Morro de São Paulo. As belíssimas paisagens que tivemos a oportunidade de conhecer com esse passeio estarão para sempre em nossa memória!

À noite fomos jantar no Strega, um bom restaurante de massas na Vila. Eu pedi nhoque, meu marido pediu espaguete, ambos ao molho quatro queijos, e nos surpreendemos com pratos muito bem servidos. Saímos de lá bastante satisfeitos.

Uma das vantagens de Morro de São Paulo é a quantidade de lan houses. Uma delas, a Matrix, foi muito útil para nós, pois gravamos dois CDs de fotos e liberamos os cartões de memória para tirar mais fotos. Na quinta-feira, iríamos conhecer o Forte e o Farol de Morro de São Paulo.

Wednesday, November 01, 2006

Morro de São Paulo (BA) – 2º dia

A terça-feira amanheceu nublada, então decidimos fazer a Caminhada Ecológica (R$ 25,00 por pessoa). O Lucas da agência nos apresentou ao William, que atenderia apenas a mim e ao meu marido como guia – provavelmente, apenas em baixa temporada há esse privilégio.

“O melhor turista é o turista brasileiro”, disse William logo no início do passeio. Trabalhando para todas as agencias de Morro de São Paulo, ele já guiou os mais diversos tipos de turista e sente maior dificuldade com os estrangeiros, devido ao idioma. “Turista estrangeiro gasta menos também”, acrescentaria ele mais tarde.

O primeiro monumento histórico que vimos foi a Fonte Grande, um dos maiores sistemas de abastecimento de água da Bahia colonial. Construída em 1746, ela providenciava a água usada pelos moradores para beber, lavar e cozinhar. É bastante interessante!

Depois seguimos a caminhada por dentro da ilha, tendo a oportunidade de ver as casas dos moradores da região (a maioria inacabada). William explicou que o terreno hoje custa em torno de R$ 2.000,00 a R$ 3.000,00 e que há pouquíssimo tempo havia muito mais áreas de mata virgem por onde estávamos caminhando. Na minha opinião, esse crescimento deve ser controlado imediatamente.

“Por esse caminho aqui, vocês sobem uma escada de uns cem degraus para chegar ao Teatro, onde tem apresentação toda quarta-feira à noite”, informou William, apontando o começo de uma escada que continuava por trás de algumas construções. Não tivemos oportunidade de conhecer o Teatro, mas outras pessoas na ilha também nos recomendaram a apresentação às quartas.

Houve uma parada para tomarmos água de côco no bar Ponto do Céu. O pequeno estabelecimento de madeira não tinha movimento e, provavelmente por isso, o côco estava quente (também tinha pouca água). Quando reiniciamos a caminhada, William confessou que às vezes o povo desliga a geladeira, para não gastar muita energia. Pagamos R$ 2,00 por cada côco e William ficou assustado quando dissemos que a média do preço nas praias de São Paulo é de R$ 3,50 por côco – talvez nessa hora ele tenha adiado mais o seu sonho de conhecer a capital paulista, revelado anteriormente.

Continuando a caminhada, encontramos alguns moradores carregando materiais em burros. Segundo William, não há motos, nem bicicletas na vila. Precisávamos desviar de alguns montinhos de fezes dos animais pelo caminho. Depois seguimos por uma trilha de mata fechada até a Fonte do Céu, uma pequena cascata de água gelada no interior da ilha. O banho foi bastante refrescante, pois o mormaço já vinha esquentando o passeio havia mais de meia hora.

A trilha na mata – não recomendada para idosos, pois há um certo grau de dificuldades - continuou até o povoado de Gamboa, uma pequena vila de pescadores ao lado de Morro. Lá pudemos fazer o famoso banho de argila, da cabeça aos pés – algumas pessoas ficaram tão camufladas, que nem sabíamos se eram loiras ou morenas. Depois de um banho de mar para tirar a argila, realmente ficou a sensação de que estávamos com a pele mais lisa e macia.

Antes da parada para o almoço, passamos pelo centro de Gamboa. Uma grande árvore no meio da avenida proporciona a sombra ideal para o jogo de dominó dos idosos da região na parte da tarde. Pudemos conhecer também a Igreja de Nossa Senhora da Penha, pequena e simples, como o povoado.

Depois do almoço, com a maré alta, não pudemos voltar caminhando para a vila de Morro de São Paulo. Esperamos, então, uma embarcação que vinha de Valença e cobrava R$ 2,00 por pessoa o trajeto do terminal de Gamboa ao de Morro. Quando a embarcação chegou, foram descarregadas inúmeras caixas de alimentos, além de objetos e até móveis – a maior dificuldade foi para retirar um sofá de três lugares do barco. “O povo busca quase tudo no continente”, contou William.

Em poucos minutos, descemos tranqüilamente no Terminal de Morro. No final da tarde, ainda encontramos o William na Segunda Praia com sua turma do futebol. Em Morro de São Paulo, todos os moradores e trabalhadores se conhecem; contudo, não necessariamente quem trabalha em Morro mora por ali.

À noite fomos para a Vila ver a Feira de Artesanato, na praça principal. Infelizmente, havia poucos vendedores – muitos estavam espalhados pelas ruas da Vila e no caminho entre a Primeira e a Segunda Praia. Os objetos mais interessantes estavam nas duas mesas de trabalhos feitos com casca de côco.

Depois das compras, fomos jantar no Oh Lá Lá. Recomendo o ótimo crepe de quatro queijos – uma delícia! De sobremesa, o waffle com sorvete e chocolate também é bom.