Tuesday, May 29, 2007

A criança e a escola

Por que, quando crianças, achamos que o legal é dizer que a escola é chata? Se não reclamamos da escola, não fazemos parte do grupo. Ouse elogiar, dizer que gosta e será considerado um CDF, um nerd, um coxinha, ou sei lá qual outra “ofensa” se usa hoje em dia.

Esse assunto me veio à memória quando, assistindo à aula de um novo módulo da pós-graduação, a professora contou que ela era a típica CDF da escola, aquela que se achava feia, quase não tinha amigos e amava estudar, a ponto de ser um orgulho para qualquer professor. E por que seria ruim ela gostar tanto de estudar? Sorte dela, que se tornou uma pessoa culta.

Veja bem, não me incluo na lista dos nerds. Sempre gostei de sentar na última fileira da sala e mais conversava do que prestava atenção às aulas. Apesar de não ter feito parte da turma dos rebeldes também, as salas em que eu caía eram sempre as mais trabalhosas para o colégio, por culpa de “maus elementos”. Eu podia não me meter nas travessuras (minha timidez nessa área não permitia), mas estava sempre acompanhando e apoiando o ato, quando a diretora ameaçava dar uma advertência geral.

- Se os responsáveis não se manifestarem, serei obrigada a advertir a sala toda!

Ninguém pronunciava uma palavra. A advertência por escrito também nunca era dada.

A mania de bater papo atravessou o primário, cresceu no ginásio e foi grande para o colegial e a graduação. Uma das “conversas durante as aulas” mais agradável foi no segundo colegial (claro que estou usando os nomes dados na minha época, porque já nem sei mais como eles dividem essa coisa de ensino fundamental). Eu e um amigo passávamos as horas da manhã planejando vender risoles na praia, hahahaha!

- O jeito é ir morar na praia...

- Vamos vender risoles!

- Você vende risoles e eu vendo sanduíche natural.

É, não tínhamos grandes perspectivas para o futuro... Porém, era divertidíssima a idéia de passar o dia todo caminhando na areia, conquistando clientes, mergulhando no mar de vez em quando...

Após um ano de cursinho me dividindo, com os amigos, entre as aulas e o buteco fuleiro do outro lado da avenida, cheguei à faculdade com mais assunto ainda. Minha mania de conversar (e rir, rir muito, porque sempre foram conversas cômicas) me rendeu o apelido de “Ali”, porque um professor carioca sempre mandava um “Alixandra” na hora de me dar bronca.

- Alixandra, vira pra frente!

Nas aulas dele, eu ficava na penúltima fileira e sentava de lado, para poder bater papo com o colegas que sentavam na última e acompanhar a aula ao mesmo tempo.

Enfim, nunca fui um exemplo de comportamento e continuo odiando sentar na primeira fileira. Mas não porque os outros consideram nerds os da primeira fileira, e sim porque ali eu não tenho a mesma liberdade para conversar, hehehe. No entanto, também nunca fui mal na escola. Agora percebo que desenvolvi bem cedo a capacidade de fazer duas coisas ao mesmo tempo. Eu falo pra caramba, mas anoto tudo também. Apesar da vida social sempre agitada, ajudava a sala toda na graduação, porque tinha sempre tudo anotado das aulas. Nunca fui a melhor aluna, contudo sempre fui uma boa aluna.

E apesar de, na época das infantilidades, dizer que não queria ir à escola e que não via a hora de chegar as férias, eu sentia falta da escola nas férias, sim, e gostava de ir à escola. Porque lá eu encontrava com muito mais facilidade os amigos (nas férias, cada um viajava para um canto), porque lá eu descobria um mundo novo a cada dia e porque lá encontrava desafios, oportunidades, contraditórios sentimentos, como o medo e a esperança. Quanto tempo perdemos sem aproveitar essa fase, apenas reclamando! E depois de “velhos”, temos que continuar estudando, muitos ainda precisando correr atrás do que não estudaram no colégio, porque ficaram mais preocupados em ser os “descolados”.

Sinto saudades dos professores que conquistavam a atenção até dos mais rebeldes; sinto saudades dos jogos de queimada no pátio do colégio na quarta série (tínhamos a melhor professora, que sempre estava presente na hora da brincadeira também); sinto saudades das aulas de educação física, mesmo que não tivesse lá muita habilidade para esportes; sinto saudades do croissant de catupiry da cantina, que saia quentinho na hora do recreio; sinto saudades das músicas que ouvíamos nas aulas de artes; sinto saudades da sensação maravilhosa que foi conseguir ler um livro pela primeira vez (desde então, permaneço apaixonada por livros); sinto saudades das coleções de canetas coloridas (nossa, eu até perdia as contas de quantas eu tinha), que enfeitavam meus cadernos e traziam muito mais prazer na hora de estudar para as provas; sinto saudades das notas altas, e até das notas baixas e dos trabalhos bem ou mal apresentados; sinto saudades do cheiro de material novo; sinto saudades de cada conversa durante as aulas, que tanta alegria traziam, os sorrisos mais gostosos no rosto e a paz que só um bom papo pode proporcionar.

São saudades maravilhosas de sentir! E espero que as futuras gerações possam sentir isso de maneira ainda melhor, sem precisar lembrar que ousou um dia reclamar de uma fase tão importante em nossas vidas!