Wednesday, December 20, 2006

O vestido azul

Com o Reveillon se aproximando, achei interessante fechar o ano com essa lembrança em forma de crônica.

Na última sexta-feira, choveu pouco antes de eu sair da empresa. Os paralelepípedos das calçadas estavam encharcados. Escorreguei levemente. Pensei na vergonha que seria se eu tivesse caído. E lembrei do vestido azul. Você já vai entender.

Não era um azul óbvio. Era meio claro, meio lilás. Um azul claro com tons de lilás. Mas era bonito. Comprei com uma amiga em um shopping, na época. O objetivo era passar o Reveillon com ele.

Eu nunca fora supersticiosa para escolher a cor da roupa. Se bem que depois que passei de vermelho a virada de 1999 para 2000, só apareceram garotos meio ruivos na minha vida... Bom, escolhi o vestido azul, porque ele me chamou a atenção na vitrine, e sempre foi assim que comprei roupas.

A virada do ano de 2001 para 2002 foi em Florianópolis, no estado de Santa Catarina. Viajamos numa turma de dez amigos e ficamos hospedados em uma casa espaçosa na praia da Barra da Lagoa. Foi um dos passeios mais especiais para mim até hoje. Estávamos todos com pique de conhecer de verdade aquela “ilha da magia” e, com carros alugados, passamos por todas as praias de norte a sul da capital catarinense. Também tivemos tempo para visitar a Ilha do Campeche e as badaladas praias de Garopaba, a 80 quilômetros de Florianópolis. Foram dias de muita beleza e alegria.

Lembro que quando falávamos com alguém que estava no Rio ou em São Paulo, as notícias meteorológicas denunciavam chuvas na região sudeste. E nós aproveitávamos céus de sol e lua cheia, sem nuvens, no sul.

Mas, é claro, nenhuma viagem pode ser perfeita. E a noite de chuva das nossas férias foi bem a do dia 31 de dezembro. Quando chegamos ao centro da ilha, enfrentamos uma chuva fina enquanto procurávamos lugares para estacionar os carros. Contudo, a Avenida Beira-Mar estava lotada e não podíamos desanimar.

A água deu uma trégua e pudemos caminhar por um tempo. Não havia nada de especial na comemoração ali. Nem mesmo as bandas que tocavam no palco montado no meio da avenida. Bastava esperarmos os fogos de artifício terminarem seu show para irmos a algum outro lugar.

Porém, perto da meia-noite, a chuva voltou e ainda mais forte. Havia uma multidão tentando se esconder nos toldos das barracas e carrinhos de comida. Quando vi, já estava debaixo de um guarda-sol junto a uma dúzia de pessoas, segurando todas as máquinas fotográficas e celulares da minha turma. Não me lembro como tudo aquilo parou nas minhas mãos. Cada vez mais gente tentava proteger-se debaixo do guarda-sol e qual não foi a minha surpresa ao ver uma das máquinas mais caras escorregar das minhas mãos e cair no chão, direto em uma poça d’água!

Enfim, a virada do ano foi péssima! Tive vontade de chorar, porque a máquina caiu no chão, porque não consegui abraçar ninguém decentemente a meia-noite e até porque dois amigos, namorados, estavam brigando bem na virada e nos contagiaram com o mau humor. Ainda bem que todos os dias anteriores e posteriores da viagem compensaram essa noite.

Algumas pessoas que lêem essas palavras agora devem pensar: mas o vestido azul não tem culpa. Eu não sabia se ele tinha culpa ou não, sinceramente. No entanto, por mais de um ano, eu olhei para ele no armário e não consegui usa-lo. Sempre acabava escolhendo outra roupa.

Sobre o ano de 2002, não há grandes queixas. Fizemos ainda muitos passeios especiais. Em nenhum deles, claro, usei o vestido azul.

Já estávamos no primeiro semestre de 2003, quando, sem saber o que usar para uma balada na Vila Olímpia, em São Paulo, coloquei o vestido azul. Eu ia encontrar algumas amigas antes na região da Avenida Paulista, então peguei um ônibus que subia a Avenida Brigadeiro Luís Antonio. Uma garoa fina foi suficiente para me fazer sentir certo arrependimento na escolha do vestido, no entanto tudo estaria bem se não fosse o trânsito que peguei na Brigadeiro.

Desci dois quarteirões antes do ponto próximo a Paulista e subi caminhando em ritmo acelerado, pois estava atrasadíssima. Quando cheguei próxima a esquina da Brigadeiro com a Alameda Santos, foi que aconteceu: um escorregão numa tábua de madeira e eu caída de cara no chão!

Um rapaz veio me ajudar e perguntou se eu havia me machucado. Respondi que não, agradeci, mas sai depressa dali, pois estava morta de vergonha. Em pensamento, xinguei o mundo. Perdi a vontade de ir para a balada e não conseguia encarar as pessoas a minha volta, pois poderia ver alguém rindo do meu tombo.

Consegui encontrar minhas amigas sem mais acidentes e acabamos indo mesmo para a balada. Nada de especial. Ao chegar em casa, ainda constatei que havia rasgado um pedaço microscópico do vestido, na parte da saia. Foi o suficiente para eu jogar aquilo no lixo. Não queria nem dar para alguém aquela porcaria. Peguei trauma até da loja onde o comprei.

Pois é, superstições são assim. Dizemos que não acreditamos, mas quando nos damos conta, elas já estão nos influenciando. E eu achei a minha cor para as viradas de ano: rosa! Passei três anos com essa cor e até agora estou satisfeita! ;-)