Friday, February 03, 2006

Fome

Cadu, Drica, Nanda, Tony, Rique e Tina nasceram, foram criados e ainda moram em São Paulo. Jovens, na faixa dos 20 a 30 anos, eles são da geração que aprendeu a contar com serviços disponíveis vinte e quatro horas por dia, a semana toda. Adoram sair para jantar depois das onze horas da noite nos fins de semana ou comprar lanches e sobremesas de madrugada, depois das baladas, mesmo quando elas são de quarta-feira, por exemplo.

Desde que todos completaram a maioridade, os seis amigos organizaram várias viagens, em geral para o interior do estado. Isso porque os sítios com piscina, localizados nas cidades menores e mais próximas da capital, eram as hospedagens favoritas da turma. Neles, era possível fazer festas à vontade sem incomodar os vizinhos ou mesmo cozinhar para as refeições, o que os ajudava a gastar menos com baladas e restaurantes.

Mas, para esse verão, eles programaram algo diferente. E agora estão, pela primeira vez, em Florianópolis, a capital de Santa Catarina. Foram seis meses economizando dinheiro para investir nessa viagem e logo que pisaram em uma das belas praias da ilha sentiram que valeu a pena.

O primeiro dia foi de muito sol e mar. Com o carro que alugaram para passear, puderam conhecer três praias. Aproveitaram cada momento até o sol se pôr completamente e a noite escurecer o caminho de volta para a pousada, na qual estão hospedados.

- Meu, esse lugar é show! Mas to cansadaço, vou tirar um cochilo – disse Rique ao entrar no apartamento.

- Eu sou a primeira no banho! – adiantou-se Tina, correndo em direção ao banheiro.

Entre cochilos, banhos e conversas a turma se arrumou e só ficou pronta para sair depois das dez horas da noite. Tony, durante o dia, havia reparado nas faixas dos restaurantes da Lagoa da Conceição sobre os preços das seqüências de camarão e estava louco para pedir uma.

Nas ruas da Lagoa, Cadu é o motorista do carro e, antes de estacionar o veículo, repara que o primeiro restaurante está fechado.

- Opa, seguindo direto pro próximo!

Ao chegar no segundo restaurante, Drica desce do carro para ler o aviso colado na porta.

- Galera, o horário de funcionamento é das onze da manhã até as dez da noite.

- Cê tá brincando, Drica? Que manés! Em pleno verão fechar o restaurante as dez da noite?! – responde Tony, indignado.

- É, parece que não vamos conseguir nada mesmo por aqui agora... Sua seqüência de camarão vai ficar pra amanhã, Tony. – diz Nanda.

- O negócio é ir pro centro, cara. Só no centro as coisas devem funcionar na madrugada dessa ilha. – recomenda Rique para o motorista.

Cadu pega o caminho para o centro e logo se depara com o trânsito. Drica, que está no banco ao lado do motorista, liga o som. Os quatro jovens, apertados no banco traseiro, cantam animados, acompanhando a música do Skank. Passa-se uma hora e eles não estão nem na metade do caminho.

- Cara, tô desacreditando nesse trânsito! – exclama Tony, mais uma vez indignado.

- Eu acho que é por causa daquela balada que vimos de dia, fica logo ali na frente – arrisca Nanda.

- Ai, Cadu, será que não é melhor a gente voltar pra trás? Será que não tem outro caminho? – sugere Tina.

- Acho que a Nanda tem razão, deve ser por causa da balada. – responde Cadu – Já está andando, olha.

O relógio marca uma hora da manhã quando Cadu consegue estacionar o carro no centro de Floripa, em uma vaga bem apertada. A pizzaria do outro lado da rua parece estar aberta. A turma se aproxima e uma mulher, do lado de dentro do estabelecimento, fecha a porta na frente deles.

- Minha linda, nós vamos entrar. – diz Rique para a moça.

- Sinto muito, senhor, mas nós estamos fechando. – responde a garçonete.

No meio da porta, do lado de fora, está colado um papel com o horário da pizzaria: jantar das 18h30 às 01h00.

- Não é possível! Simplesmente não é possível! – reclama Tony, irritado.

- E agora? To morrendo de fome! Não tem nem uma bolachinha na pousada... – chora Tina.

- Meu, esse lugar não existe! Vida noturna só em Sampa mesmo! – diverte-se Rique.

- Pelo menos o Mc Donald’s deve estar aberto, galera. Tem que estar! – lembra Cadu.

Os seis entram no carro e Cadu pega uma rua que acredita ser o caminho para o Mc Donald’s. Ninguém havia lembrado de providenciar um mapa.

- Nós estamos desde as quatro da tarde sem comer... Vou desmaiar desse jeito! – chora Tina mais uma vez.

- Calma, Tininha! Pensa que fome é algo psicológico! – brinca Rique.

- Ai, não é por aqui... Que droga! – pensa Cadu em voz alta.

- Se você tivesse tentado primeiro o caminho que te falei, já estávamos lá! Essa ilha nem é tão complicada pra você se perder desse jeito! – emburra Drica.

- Ô mané, por aqui, daqui a pouco, estamos de volta pro sul da ilha! – diz Nanda, cutucando Cadu nas costas.

- Já sei, já sei! Vocês querem parar de falar?! – irrita-se Cadu.

Quase duas horas da madrugada, Cadu, Drica, Nanda, Rique, Tony e Tina conseguem entrar no Mc Donald’s. Felizmente, a lanchonete resolvera funcionar até as seis horas da manhã durante o verão. Depois de dois lanches completos para cada um, não havia mais nada a fazer a não ser voltar para a pousada e descansar para o dia seguinte.

- Amanhã eu como minha seqüência de camarão! De qualquer jeito! – promete Tony.

- Vamos é fazer compras, isso sim. Deixar bolachas na pousada de reserva – determina Tina.

- Eu tô tranqüila agora. Gente, o Mc fica aberto! Já podemos vir ao Mc todos os dias! – Drica ri e os outros riem com ela.

- Você adorou que a solução foi o Mc, né, ô viciada em lanches? – Cadu dá um beijo na testa da namorada.

- Nunca mais eu passo fome desse jeito, cara! Vou morar em Sampa pra sempre! – finaliza Rique.

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