Friday, December 16, 2005

Processo seletivo

“É sempre a mesma coisa. Os caras te chamam pra entrevista, você chega no horário e tem que esperar pelo menos meia hora até alguém te atender. Eles não adiantam o valor do salário por telefone, então nem sei se estou perdendo meu tempo aqui. E nem deve ser entrevista, deve ser uma prova ou dinâmica de grupo, como todas as empresas fazem agora. Que coisa mais chata!”

Enquanto Cíntia se concentra nesses pensamentos, sentada no sofá da recepção da empresa, Marina sai do elevador se sentindo perdida no hall do andar. Há quatro portas de vidro na frente dela e nenhuma tem identificação. Ela pensa: “Por que eles não colocam pelo menos uma plaquinha indicando ‘RH’? Será que isso já é um teste pra vaga? Hoje em dia eles inventam tantos testes pra contratar alguém...”

Ver Cíntia interrompe os pensamentos de Marina. Ela entra na recepção e cumprimenta a amiga, animada com a coincidência.

- Ai, Cí, que bom que você também está aqui! Sempre me sinto tão perdida nessas empresas cheias de processos seletivos!

- Eu também! É sempre bom ter alguém conhecido por perto, principalmente se for dinâmica de grupo. Dá um receio daquelas pessoas estranhas trabalhando em grupo com você, prontas para te boicotar...

Enquanto isso, dentro do elevador, Priscila conversa com Gabriela e Bianca:

- Uma vez, durante uma dinâmica, me colocaram no grupo de uma louca que discordava de tudo que todos os outros da roda falavam. Tipo, nós éramos do time dela e ela boicotando todas as nossas idéias. A nossa apresentação acabou sendo a pior e nem a louca conseguiu a vaga depois. Bem feito!

- Sem noção! E uma dinâmica que eu fui, que contrataram a pessoa que menos abriu a boca durante todo o processo. Todas as pessoas da sala cheias de idéias boas, todo mundo super participativo e a caipira quieta e isolada que levou o salário! – responde Bianca, enquanto as três saem do elevador.

Elas encontram fácil a porta certa para a empresa, pois vêem Cíntia e Marina. Quando o elevador anuncia que mais alguém vai descer naquele andar, as cinco recém-formadas já não se espantam ao ver mais uma colega de faculdade aparecer no hall. Dessa vez é Fabiana:

- Ai, não acredito! É reunião das meninas da sala mesmo? – comenta logo.

O elevador traz mais duas: Camila e Joana. A recepção agora está lotada e as moças falam todas ao mesmo tempo. A animação é tanta, que nenhuma delas percebe o homem um pouco mais velho que chega e senta-se para aguardar a entrevista, como elas.

- E aquela prova para a vaga na TV semana passada? Colei todas as respostas de atualidades da garota mais nerd da manhã, que estava sentada bem do meu lado! – confessa Cíntia, rindo da situação.

- Também, eles colocam todo mundo numa sala de auditório, como se ninguém se conhecesse pra colar. Encontrei um amigo meu de outra faculdade que falou que a sala dele inteira tava lá, todos sentando perto uns dos outros. Quem perderia essa brecha? – complementa Marina, também achando graça da situação.

- Eu acho que deveríamos fazer uma comunidade na Internet: “eu odeio processo seletivo”! – diz Fabiana e as outras brincam discutindo quais tópicos de discussão teria a comunidade.

Em outro canto do sofá da recepção, Bianca mostra-se saudosa:

- E pensar que antigamente era só uma entrevista com o chefe da empresa e você já era ou não contratado na hora... Meu primeiro emprego, antes de entrar na faculdade, foi assim. Fui lá, conversei meia hora com o chefão e já tava contratada. Sem frescuras.

- Com certeza era bem mais fácil e mais eficaz também. Quem não concorda com isso, é puxa-saco de RH – comenta Gabriela rindo e reparando pela primeira vez no homem sentado próximo a ela – Oi, você não concorda com a gente?

- Desculpa?! – responde o homem olhando pela primeira vez diretamente a uma das moças.

- Você não concorda que esses processos seletivos de hoje em dia não levam a nada? – Gabriela repete a pergunta.

- Bem, não é bem assim... – começa o homem - Acredito que as atividades em grupo revelam bem o estilo de cada um para o trabalho. Claro que também são necessários funcionários bastante perspicazes para fazer a observação desses grupos. Contudo, sobre os enganos na contratação, esses ocorriam mesmo quando era utilizada apenas uma entrevista por candidato. Então, concordo que nenhum processo seletivo é cem por cento eficaz, mas a evolução dos métodos é muito positiva.

Na ponta mais distante do sofá, Joana fala baixo e ri com Camila e Cíntia:

- E este é um dos puxa-sacos!

Pela porta lateral próxima a mesa da recepcionista, uma mulher elegantemente vestida e usando um crachá da empresa entra na sala e chama pelo nome do homem.

- Sou eu – diz ele, levantando-se da cadeira.

- O senhor me acompanhe, por favor, até a minha sala. – Ela se volta para as meninas - Quanto a vocês, senhoritas, infelizmente nenhuma foi aprovada na primeira fase do processo seletivo. Guardaremos os currículos de vocês em nosso banco de dados para as próximas oportunidades. Obrigada pela participação e até a próxima. – E de novo olhando para o homem – Vamos?

Ambos desaparecem pela porta lateral e as meninas ficam por um minuto em silêncio. Cíntia é a primeira a se manifestar.

- Que processo? Que primeira fase?

A recepcionista, então, resolve explicar:

- Estão vendo aquelas duas câmeras ali em cima, penduradas no teto? Então, a primeira fase aqui é a observação das atitudes dos candidatos logo na recepção da empresa. Parece que eles não gostaram muito das posturas de vocês...

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ali, isso eh fruto de sua imagina imaginação ou realmente aconteceu!?

8:02 AM  
Anonymous Anonymous said...

"MUITO BOM"
NO PROFISSIONAL SOMOS AVALIADOS O TEMPO TODO... VACILOU, SE FU... rsrs

9:35 AM  
Blogger Mariane said...

Entrevista é um saco mesmo, mas qualquer idiota sabe que esta sendo observado antes mesmo de entrar na sala do recrutador, então ao menos finja! hauhauhauhau

10:41 AM  

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