Friday, December 02, 2005

Metrô

Olho o relógio. Tudo certo. As vinte e duas horas em ponto eu estarei na catraca da estação de metrô Vila Madalena. Gosto dessa minha pontualidade. É desagradável deixar as pessoas esperando.

Começo a viagem na linha verde mesmo, na estação Brigadeiro. A linha verde do metrô em São Paulo liga a estação Paraíso à estação Vila Madalena (passando pela Brigadeiro, Trianon-Masp, Consolação, Clínicas e Sumaré).

Muitos dos que entram comigo descem na Trianon-Masp. Por que tantas pessoas pagam metrô para ir da Avenida Brigadeiro até o Masp? Povo sedentário! A caminhada é tão rápida!

Estação Consolação. Eu estou sentada no meio do vagão e três pessoas que estão a minha frente saltam ali. Olho para trás. Agora não há ninguém no vagão além de mim.

Controlo o meu medo. Nunca estive sozinha em um vagão de metrô ou trem. E confesso que o fato de viajar embaixo da terra me causa certo pânico. Mas que bobagem, não preciso ter medo só porque estou sozinha! Acho que poucas pessoas descem na Vila Madalena nesse horário mesmo.

Mas... Pensando bem... É sábado, dia de sair com os amigos, e está cheio de opções de barzinhos naquele bairro. Falando francamente, nunca vi a linha verde tão pouco movimentada. É um sinal de que eu devo descer também? Pelo menos procurar um vagão ocupado? Até as portas estão demorando a fechar.

Levanto, vou em direção a porta. Certo, é tarde demais. O apito toca e as portas se fecham. Volto a sentar no banco. Inspiro profundamente o ar para tentar me acalmar e...

Meu Deus! O trem mudou o sentido! Ai, meu Deus!

Levanto e olho para a porta. Desespero! Ai, meu Deus! Ando de um lado para outro na frente da porta e... Ai, meu Deus! Esse negócio vai estacionar e eu vou ficar presa!

A imagem é bem clara na minha mente. O trem vai parar no fim do túnel. As paredes vão impedir minha saída por qualquer uma das janelas. Na minha imaginação, as luzes ainda estão acesas mas... Como vou avisar alguém? Celular pra quê nessas horas, se não funciona embaixo da terra?

Estou tendo um ataque de pânico! Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! Por que eu não desci com todo mundo? Bato na porta. Como se alguém pudesse me ouvir! A imagem do trem estacionado volta à minha mente. Nela, continuo sozinha, aflita e ninguém vem checar se há alguém preso. Pergunto-me: quanto tempo levará para usarem esse trem novamente?

Deixando de lado essa imagem, penso na minha família. Meu pai me levou até a Avenida Paulista achando que eu encontraria alguém ali mesmo. Eles ficam muito preocupados com o uso de transporte público à noite, depois das vinte e uma horas, e eu não quis incomodar falando a verdade. Porém, com certeza o meu amigo que me espera na Vila Madalena ficará preocupado e ligará em casa. Eles vão descobrir que eu menti! Ai, meu Deus!

A campainha toca. Nunca gostei tanto de ouvir essas palavras: Estação Paraíso. Obrigada, Senhor! O que foi que aconteceu aqui?

Desço tremendo dos pés a cabeça. Mal consigo olhar para as pessoas. Elas entram naquele trem, que vai seguir de novo o sentido para a Vila Madalena. Jamais entraria ali de novo! Não, nem me arrisco!

Espero o próximo. Continuo tremendo. Minhas pernas mal agüentam o meu corpo. Prometo: dessa vez, se todo mundo descer, eu desço também!

Lá vem ele. Entro no vagão mais cheio. Minhas mãos seguram firmemente a jaqueta e a bolsa no meu colo. Começa a contagem regressiva.

Brigadeiro, descem algumas pessoas. Trianon-Masp, mais algumas. Consolação. Dessa vez ficam seis pessoas além de mim lá dentro. Mesmo assim, seguro mais forte a jaqueta e a bolsa.

Ufa! O trem se move sem mudar o sentido. Clínicas. Três descem. Que demora! Sumaré. O casal lá do fundo desce. Só sobra eu e outro jovem dentro do vagão.

Minhas mãos apertam ainda mais a jaqueta e a bolsa. Peço proteção a Deus. Chega logo, Vila Madalena! Chega logo! O rapaz nem me olha. Mas eu tenho receio. Infelizmente, a vida está violenta demais, temos que ficar atentos sempre. E eu não conheço esse cara. Vai que ele levanta e vem me abordar? Essa droga de Vila Madalena não chega logo!

Campainha. Estação Vila Madalena. Finalmente! São vinte e duas horas e quinze minutos.

Ao sair do vagão, vejo na mão do tal rapaz uma bíblia. Como pude desconfiar dele? E por que estou pensando nisso? Inspiro profundamente o ar. Chego a catraca e encontro o meu amigo. Minha expressão ainda é de susto. “O que aconteceu?”, ele pergunta. Conto tudo, porém saindo depressa dali. Chega de metrô por essa noite!

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

O MELHORRRRRRRRRRRRRR !!!!!!!

9:40 AM  

Post a Comment

<< Home