Friday, August 11, 2006

Amizade

Ela aparecia uma vez por mês e fazia brilhar os olhos do menino. Ficava poucos dias e só compartilhava sua companhia durante as noites.

- Fio, vem durmi que já tá tarde!

- Mas, mãinha, a Luz inda não si recoieu...

A mãe sentia dó do menino e deixava ele olhar a luz em forma de bola até cair de sono no chão da varanda. O garoto crescia e estava cada mês mais pesado, mas ela preferia carrega-lo ela mesma para dentro de casa, do que ouvir a bronca do marido. O pai do menino não entendia aquele tipo de amizade que a criança cultivava.

No entanto, o menino não podia ter outros amigos, pois não conhecia outras crianças. O culpado pelo isolamento da família naquela pequena roça no meio do nada era seo Geraldo, avô do garoto. Muitos anos antes, quando sua finada esposa, dona Mariana, ficara grávida, ele resolvera criar o filho longe das maldades do mundo.

- Meu fio não percisa de amigo farso e patrão exploradô!

Também levara para a casa de barro uma menina de dez anos de idade. Ela ajudava dona Mariana no serviço doméstico. Fora essa moça quem se “casara” com o herdeiro de seo Geraldo anos depois, apesar da diferença de idade, e parira o menino apaixonado pela luz.

Enquanto crescia, o menino sentia medo. Haveria a possibilidade de Luz nunca mais visitá-lo? Porém, no mês seguinte, seu coração se aquietava, pois lá vinha ela no horizonte, brilhando novamente.

O menino tornou-se, enfim, um adulto. Seus pais e seu avô não o poderiam mais segurar: iria embora com a Luz.

Na noite da fuga, coincidiu que todos na casa se recolheram cedo. Sem despedidas era melhor. Olhando a luz em forma de bola da varanda da casa, o menino-homem sorriu para a amiga. Ela parecia sorrir de volta. Em seguida, começaram a caminhada.

Era uma amizade inocente, sem necessidade de contato físico ou constrangimento pelo silêncio no lugar da conversa. Só importava o bem-estar e o bem-querer.

Logo no primeiro amanhecer, todavia, o menino-homem descobriu que Luz continuaria a lhe fazer companhia apenas durante as noites e durante, provavelmente, apenas alguns dias do mês, como sempre. Entristeceu-se, mas não desistiu da empreitada. Na próxima noite, descobriria onde Luz se recolhia.

O menino-homem andou muito, noite após noite, e alcançou a cidade. Encontrou outras famílias, outros tipos de casa, outros tipos de amigos. Só nunca encontrou respostas da amiga Luz.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Me emocionei !!!
Quem diria que a luz do luar poderia encher o coração de uma criança de sonhos?!?!?!
ADOREI...

1:37 PM  
Anonymous Anonymous said...

Show DUDU!
Adorei tb
Bjs Dodiro

10:00 AM  

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